Ano: 2024

Supressor sustentável reduz impacto ambiental e transforma vidas de catadores de recicláveis do Espírito Santo

VALE S.A.

Categoria: Produtos ou Serviços

Aspectos Gerais da Prática:

A redução da emissão de poeira proveniente de pilhas de minérios e de carvão dos pátios de estocagem da Unidade de Tubarão, em Vitória, é um dos maiores desafios ambientais da Vale no Estado. Em 2018, a empresa assinou um Termo de Compromisso Ambiental com o Ministério Público e autoridades estaduais prevendo a execução de 160 ações com o objetivo de controlar as emissões desses particulados.

De lá para cá, o Plano Diretor Ambiental de Tubarão (PDA), como ficou tecnicamente conhecido, já permitiu a instalação, entre outras medidas, de 10 quilômetros de barreiras de vento (windfences) no entorno de seis pátios de estocagem; canhões de névoas, semelhantes a turbinas de avião, que lançam microbolhas de água com alcance de até 150 metros, formando uma espécie de neblina sobre o pátio de estocagem para evitar a dispersão da poeira; além do fechamento de 12 mil metros quadrados de locais destinados ao manuseio de produtos, como minério, pelotas, carvão e calcário, e da pavimentação de áreas internas da planta industrial. As ações já permitiram reduzir em 85% a emissão de poeira difusa nas operações da companhia em Vitória.

O supressor de poeira também é uma das soluções previstas neste PDA. O produto é aplicado sobre as pilhas de minério, carvão e pelotas, formando uma camada protetora que evita o arraste de particulado pela força do vento. “Não tínhamos bons supressores de poeira e tivemos que desenvolver fornecedores para nos atender”, lembra Vinícius Romano, gerente de Prospecção, Inteligência e Modelagem de Inovação. “Em paralelo, a gente nunca deixou de investir em pesquisa de desenvolvimento. Queríamos um produto inovador e sustentável, que não existia no mercado”, completa.

Em 2023, a empresa utilizou pela primeira vez, de maneira comercial, um supressor produzido a partir de plástico PET, que foi desenvolvido em pela Vale em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

Relevância para o Negócio:

Reduzir as emissões de particulados na região da Grande Vitória, usando um produto ambientalmente sustentável é de grande relevância para o negócio porque contribui com a reputação da empresa junto à sociedade e investidores. Ao mesmo tempo, gera valor compartilhado para a Vale e para a sociedade ao comprar a matéria-prima direto de associações de catadores de materiais recicláveis.

Aspectos Inovadores Relacionados a Prática:

As buscas por um supressor eficiente e sustentável para controle de emissões de poeira provenientes de minério depositado em pilhas ou em vagões surgiram bem antes da assinatura do PDA. Em 2012, a Vale teve acesso a uma pesquisa ainda experimental sobre uma resina produzida a partir de garrafas de plástico PET. O trabalho vinha sendo realizado por um grupo de pesquisadores liderado pelo professor Eloi Alves da Silva Filho, do Departamento de Química da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

“O primeiro contato ocorreu numa feira de meio ambiente organizada pela prefeitura de Vitória. Tínhamos um estande onde exibíamos ao público a reação química que permitia ‘quebrar’ as moléculas do PET, viabilizando a resina a partir de uma mistura com um aditivo. Um empregado da Vale se aproximou e perguntou se aquele produto poderia gerar um supressor de poeira. E eu disse que sim, mas tínhamos que fazer mais pesquisas”, lembra Eloi. A empresa resolveu apostar e, no ano seguinte, foi formalizado o contrato de P&D entre a empresa e a UFES.

Realizados inicialmente em pequenos balões volumétricos de 10 mililitros em bancada de laboratório, os testes evoluíram rapidamente em escala. A Vale financiou a construção de uma planta-piloto dentro da universidade com capacidade para 2 mil litros. “Iniciamos com 50 litros, depois 500 litros até chegar ao piloto com 2 mil litros. A partir daí, conseguimos verificar a performance do supressor, para só depois testá-lo no campo. Fizemos ensaios em pilhas de minério de ferro de Tubarão e nos vagões da Estrada de Ferro Vitória a Minas. Foi aí que comprovamos a eficácia do produto, pois ele inibiu a poeira dos vagões de uma viagem de Itabira, em Minas Gerais, até Vitória, um percurso de seis horas”, conta o professor da UFES. O projeto de P&D durou cinco anos, entre 2017 e 2021. Em 2023, ele foi homologado para uso comercial. A primeira patente, feita em conjunto pela Vale e UFES, data de 2016. Hoje, o produto já é patenteado em 18 países ao redor do mundo.

Contribuição da Prática para o Desempenho da Empresa:

A redução da emissão de poeira proveniente de pilhas de minérios e de carvão dos pátios de estocagem da Unidade de Tubarão, em Vitória, é um dos maiores desafios ambientais da Vale no Estado. Em 2018, a empresa assinou um Termo de Compromisso Ambiental com o Ministério Público e autoridades estaduais prevendo a execução de 160 ações com o objetivo de controlar as emissões desses particulados.

De lá para cá, o Plano Diretor Ambiental de Tubarão (PDA), como ficou tecnicamente conhecido, já permitiu a instalação, entre outras medidas, de 10 quilômetros de barreiras de vento (windfences) no entorno de seis pátios de estocagem; canhões de névoas, semelhantes a turbinas de avião, que lançam microbolhas de água com alcance de até 150 metros, formando uma espécie de neblina sobre o pátio de estocagem para evitar a dispersão da poeira; além do fechamento de 12 mil metros quadrados de locais destinados ao manuseio de produtos, como minério, pelotas, carvão e calcário, e da pavimentação de áreas internas da planta industrial. As ações já permitiram reduzir em 85% a emissão de poeira difusa nas operações da companhia em Vitória.

O supressor de poeira também é uma das soluções previstas neste PDA. O produto é aplicado sobre as pilhas de minério, carvão e pelotas, formando uma camada protetora que evita o arraste de particulado pela força do vento. “Não tínhamos bons supressores de poeira e tivemos que desenvolver fornecedores para nos atender”, lembra Vinícius Romano, gerente de Prospecção, Inteligência e Modelagem de Inovação. “Em paralelo, a gente nunca deixou de investir em pesquisa de desenvolvimento. Queríamos um produto inovador e sustentável, que não existia no mercado”, completa.

Em 2023, a empresa utilizou pela primeira vez, de maneira comercial, um supressor produzido a partir de plástico PET, que foi desenvolvido em pela Vale em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

Resultados Sociais e Ambientais Obtidos com a Prática:

A participação de associações de catadores de recicláveis da região metropolitana de Vitória acontece desde que ele era apenas um projeto-piloto. Ainda no campus da UFES, todo o material usado na usina de 2 mil litros era adquirido desses trabalhadores. “O projeto toca em alguns conceitos bem relevantes, quando a gente fala em mineração sustentável, que é uma das ambições que a gente tem como empresa. Estamos fazendo isso de uma forma muito responsável e sustentável. Esse é um case bem emblemático de geração de valor compartilhado, justamente por mostrar que é possível que corporações adaptem a sua cadeia de suprimentos para gerar valor à sociedade”, afirma Vinícius, da Vale.
Em 2019, a área de Sustentabilidade da Vale decidiu criar o projeto Reciclo, que se tornaria um marco na transformação e valorização dos catadores de recicláveis capixabas. “A gente desenhou o Reciclo visando o aumento do PET nas associações e a melhoria da renda dos catadores, alinhado a um dos pilares da nossa estratégia de atuação social”, explica Viviane Fontes, analista de Sustentabilidade da Vale no Espírito Santo e responsável pelo projeto.

Lançado em 2019, o Reciclo propiciou o aumento da renda dos catadores em cerca de 56%, chegando à média de R$ 1.338 por pessoa. Isso foi possível com a realização de capacitações para melhoria da gestão e produtividade das organizações, investimento de R$ 1,8 milhão em equipamentos e obras, além da articulação com o ecossistema de reciclagem para aumentar a rede de parcerias das associações. Em 2021, o total coletado era de 168 toneladas por mês e chegou a 357 toneladas em 2023. O índice de PET coletado aumentou em 77% desde 2021, atingindo a média atual de 14 toneladas por mês. O trabalho foi realizado em parceria com a Rede de Economia Solidária dos Catadores Unidos do Espírito Santo (Reunes), formada por 10 associações e cooperativas de catadores de materiais recicláveis da região metropolitana de Vitória. Ao todo, 580 pessoas, entre catadores e seus familiares, já foram beneficiadas pelas ações do Reciclo.

“Tínhamos problemas de organização, de layout, de galpão, de funcionamento, de rotina de trabalho. Então, o Reciclo entrou nessas frentes. Passamos por diversas capacitações no decorrer dos últimos anos”, lembra o presidente da Reunes, Lúcio Heleno dos Santos. Segundo Viviane, um dos objetivos era incorporar uma visão de empreendedorismo às associações. Foram elencados 47 indicadores, entre os quais os de segurança do trabalho, gestão e eficiência da triagem dos materiais, mensurados trimestral ou semestralmente.
Dentre os indicadores está: 580 catadores e familiares beneficiados, aumento de 56,7% de renda dos associados, mais de 1 milhão e 800 mil reais investidos em obras e compra de equipamentos, 12 planos de negócios elaborados, mais 600mil reais captados em editais externos, aumento de 147% dos materiais nas associações (média anual de mais 5 mil toneladas de materiais), 77% de aumento do PET coletado (média anual de 165 tonelada por mês) e mais 480 horas de capacitação.

Antes das ações que resultaram em capacitações e melhorias das instalações das associações, foi preciso entender a realidade dos catadores de recicláveis da região de Vitória: qual era a renda média, a gestão das organizações, os principais materiais vendidos, se recebiam apoio de políticas públicas, qual o volume de PET na região metropolitana e, desse total, o que era destinado à reciclagem. Os anos de 2019 e 2020 foram dedicados à realização de um diagnóstico. “Foi um período superdifícil, no meio da pandemia, e com um público muito desconfiado. Afinal, estávamos ali levantando dados sensíveis, como a renda, eles já estavam cansados de pessoas que coletavam dados e depois sumiam sem deixar benefícios, relata Viviane. O diagnóstico mostrou que havia um gap entre a coleta de garrafas PET pelas associações e a demanda da Vale no Espírito Santo, além de apontar a necessidade de profissionalização e melhorias de infraestrutura.

A quantidade para atender a demanda da Vale anualmente no Espírito Santo e parte de operações de Minas Gerais eram necessários 5 milhões de litros do produto por ano. Se fosse para todos os ativos da Vale no Brasil, esse número precisaria dobrar. A produção de 10 milhões de litros de supressor representaria o consumo anual de 550 toneladas de PET, que representa um ganho ambiental significativo ainda mais de se considerar que a degradação desses polímeros no meio ambiente ultrapassa os 450 anos. Apenas no Espírito Santo, além de garantir a eficiência no controle de emissões atmosféricas em Vitória, o supressor sustentável tem o potencial de retirar do meio ambiente todos os meses mais de 1 milhão de garrafas PET por mês.

Nos aterros da Grande Vitória, há dois tipos de PET que não são reciclados: os coloridos e os brancos opacos, presentes, por exemplo, em garrafinhas de energéticos e de iogurte; e aqueles que estão em bandejas de bolo e de outros alimentos, chamados pelos catadores de “bandejinha”. Os catadores procuraram a UFES para saber se era possível usar esses plásticos na produção de supressores e descobriram que sim. “A cor não importava”, respondeu o professor Eloi. A partir daí, o PET bandejinha e o colorido passaram a ser coletados, reduzindo o impacto ambiental nos aterros.
Em 2021, todas as associações juntas trabalhavam em apenas 40 pontos. No final de 2023, o número já era perto de 200. “Realizamos uma grande sensibilização em condomínios, empresas e órgãos públicos, incluindo a casa do governador e o palácio do governo do Estado. O governador entendeu que isso era muito importante e nos falou que o primeiro lugar que a gente deveria começar a coleta era na casa dele. Além disso, a própria Vale passou a entregar o seu resíduo reciclável gerado na Unidade de Tubarão para as associações”, conta Lúcio Heleno.
O fornecimento direto de PET da Reunes para Biosolvit eliminou os “aparistas”, os atravessadores que compram dos catadores para revender à indústria, aumentando o lucro das associações. Segundo Lúcio Heleno, o quilo do produto era antes vendido, em média, a R$ 2,40 e agora passou a ser negociado a R$ 4,20. Tínhamos associações, com catadores que ganhavam um quarto de salário mínimo e passaram a ganhar dois salários mínimos por mês, como é o caso da Acarmap, da Ivanildes”, lembra o presidente da Reunes.
Ivanildes Lima Rodrigues, presidente da Associação Beneficente dos Catadores de Materiais Recicláveis em Nova Rosa da Penha II, a Acamarp, em Cariacica, confirma “Em 2021, tínhamos apenas 5 catadores aqui. Hoje, somos 26. Nosso galpão foi reformado e recebemos do Reciclo uma nova prensa e uma mesa de coleta, além dos cursos de capacitação. Posso dizer que o Reciclo nos devolveu a nossa dignidade”.

Gestão da Prática Relatada:

Dentro da jornada de transformação cultural, a Vale apresentou, no fim de 2021, durante o encontro anual com investidores em Nova York (Vale Day) a sua Ambição Social. Seu objetivo é:

Ser uma empresa parceira no desenvolvimento de comunidades autônomas, engajada em temas relevantes para a humanidade e comprometida com a mineração sustentável

Apoiada em três pilares prioritários — mineração sustentável, comunidades autônomas e causas globais — e alinhada a 10 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (1,2,3,4,5,7,9,10,11 17), a Ambição Social é realizada de maneira voluntária e estabeleceu as seguintes metas até 2030: 1) Apoiar a saída de 500 mil pessoas da extrema pobreza; 2) Colaborar com comunidades indígenas vizinhas a todas as operações da Vale na elaboração e execução de seus planos em busca de direitos previstos na Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas (UNDRIP, na sigla em inglês); e 3) Figurar entre as três mineradoras do mundo com melhor desempenho em requisitos sociais e ambientais avaliados pelas principais agências de rating de sustentabilidade.

O projeto dos supressores sustentáveis de garrafa PET contribui para o terceiro objetivo da Ambição e, por conta disso, é acompanhado de perto pela liderança da empresa, incluindo o CEO e o Conselho de Administração. Ele é um dos itens da meta individual do vice-presidente de Vice-Presidente Executivo Técnico da Vale, Rafael Bittar.

A gestão da aplicação do produto começa com a finalização do seu ciclo de P&D. Pensou-se, então, em fazer uma planta de produção do supressor dentro da Unidade de Tubarão na Vale de Vitória/ES, mas houve resistências internas. Afinal, isso não estava no core business da empresa. “Não queríamos aumentar o custo da companhia e, então, partimos para a inovação aberta. O supressor é um processo químico e, com certeza, tinha muita startup que poderia desenvolver o projeto. Decidimos partir atrás de um parceiro, mas para isso tínhamos que sublicenciar a tecnologia e conversamos com a UFES, que topou. Um dos nossos drives era que o PET do supressor viesse de territórios onde a Vale atua, justamente para gerar renda local. Embora não estivesse no nosso foco, conseguimos também reduzir o custo de aplicação do supressor. Essa era lógica do modelo de negócio”, explica o gerente de Prospecção, Inteligência e Modelagem de Inovação da Vale.

Nascia ali a parceria com a Biosolvit, uma startup com sede em Barra Mansa (RJ), na região Sul fluminense, especializada em sistemas inovadores de purificadores de água, produtos de absorção de petróleo e derivados no mar ou em terra e na produção de vasos de planta ecológicos à base de xaxim palmeira. O contrato com a Biosolvit foi assinado em setembro de 2023 e previa a construção de duas fábricas – uma em Cariacica (ES) e outra em Minas Gerais – cada uma com capacidade anual de produzir 5 milhões de litros por ano do supressor para atender a todas as unidades da Vale no Brasil. O investimento de cerca de R$ 30 milhões nas duas plantas ficou por conta do parceiro, enquanto coube à Vale adquirir a demanda desta produção. Havia também a exigência de que, no mínimo, 60% do material PET fossem fornecidos por associações de catadores locais. Isso garantiria que as compras de PET da Biosolvit viessem com selo de rastreabilidade social, resultando em impacto positivo na comunidade.

A primeira fábrica de supressores sustentáveis da Biosolvit, em Cariacica, começou a operar em maio de 2024. A segunda está prevista para 2025. Os catadores reunidos na Reunes mostraram capacidade empreendedora e conseguiram cumprir com a tarefa de entregar a oferta de PET pedida para a primeira produção de supressores: 14 toneladas, ou seja 1 milhão de garrafas PET.

Possibilidade de Disseminação ou Replicação:

Como diz Vinícius Romano, o supressor sustentável conseguiu, de fato, gerar valor compartilhado. E mais: pode ser ainda replicado. “A gente já estudou os mercados nacional e internacional e vimos que o nosso produto tem um potencial enorme de replicação para outras mineradoras, siderúrgicas, termoelétricas, diversas indústrias”.
Lúcio Heleno, do Reunes, diz que hoje, na Grande Vitória, o setor vive a “primavera da reciclagem”. “O projeto Reciclo ajudou a quebrar o preconceito que as pessoas tinham em relação aos catadores e mostrou que somos capazes de trabalhar organizadamente e ter parcerias com a indústria. Somos valorizados pela sociedade. Por isso, eu falo que estamos vivendo uma primavera da reciclagem aqui no Estado. Agora é colher os frutos”, explica o catador, revelando que, por conta do contrato com a Vale, ganharam credibilidade no mercado e outras empresas procuraram a Reunes.
Pelo lado da UFES para além da patente compartilhada com a Vale, o projeto também gerou frutos: todos os alunos do professor Eloi envolvidos na pesquisa do supressor de PET estão, hoje, trabalhando na Biosolvit. O P&D resultou em duas teses de Doutorado, cinco dissertações de Mestrado e mais 10 trabalhos de Iniciação Científica. “Atualmente, em parceria com a Vale, estamos com linhas de pesquisa para aproveitamento de outros plásticos na produção do supressor, como copos, isopor e sacolas. Estamos ainda desenvolvendo um supressor híbrido para uso em pilhas de pelotas minério de ferro”, afirma Eloi Alves da Silva Filho, do Departamento de Química da UFES.